terça-feira, 27 de julho de 2010

Da Urgência do tempo


Viver é fora da realidade e me sufoca. Eu pensei, sim, eu pensei que...
Que por ser humano fosse fácil viver entre os ditos humanos, mas não é. É difícil e dolorido como ferida exposta na carne. É difícil como perder um amigo... Aliás, em matéria de perder amigo eu ganho de todos.
O bom é que o tempo acaba, acaba aqui, e com ele vou eu junto. Eu e meu tempo perdido. Perdido nas tantas vezes que tentei consertar a vida, mais a dos outros que a minha. E aí está (ou estava) meu erro: o de solucionar o problema dos outros e esquecer que na verdade quem precisava de solução era eu mesmo.
Já pedi perdão e por inúmeras vezes isso me foi negado e ainda assim perdoei – tentei consertar situações que não tinham conserto só por acreditar no outro, ainda acredito mais ‘neles’ do que em mim.
Chorei por ‘eles’ porque entendi que ‘eles’ mesmos eram incapazes de amar a si mesmos. Então era preciso que alguém por ‘eles’ chorasse e os amasse com o que ‘eles’ tinham de pior e melhor. E com toda força provar-lhes que havia algo de bom ‘neles’.
Quando, por medo ou fraqueza me negaram perdão e amizade eu quis, sim, juro como quis acabar com o mundo, então, engolindo meu ódio, minha raiva intensa, foi só aí meu Deus que entendi com aguda clareza que de algum modo eu estava sendo responsável por ‘eles’ quando ‘eles’ se negavam a mim.
E de maneira mais clara entendi que foi exatamente isso que O Cristo fez: entregou-se sem reservas àqueles que não O souberam amar e ser-lhe amigo.
Assim entendi que não há maior pecado que negar-se ao outro em forma de amante, de amigo,de  homem, de mulher, de pai, de mãe, irmão e irmã. Pois para o contato com o humano, para essa comunicação entrelaçada de erros, de ódio e amor é que com tanta força existimos.
A grande verdade é que existimos somente para o contato com o outro, e negar ao outro esse contato é pecado de morte.
E entendi mais uma vez que eu precisava ser maior que a raiva e a vontade de vingança e nada fazer contra ‘eles’ quando tudo ‘eles’ me negavam.
Confiei em quem me negou confiança e acreditei em quem não acreditava em mim por ter feito a ‘eles’ um único erro. E entendi que quando ‘eles’ não confiam e não acreditam é porque não entendem que só a confiança e a fé podem restabelecer a amizade e o amor perdidos. E, no entanto, entregar-se segunda vez é mais urgente e dolorido que da primeira vez.
E a segunda entrega, a entrega após o erro é que prova o amor e a amizade.
O tempo acaba, acaba aqui. Mas o meu amor e amizade ficam. Ficam nos meus livros (não nos que escrevi ou deixei de escrever, mas com os quais aprendi algo de humano e bonito), nas flores que vi e aspirei-lhes o aroma, nas cores que meus olhos deslumbraram. Vão ficar mesmo naqueles que me negaram perdão e amizade.
Meu amor fica nas músicas que ouvi e cantei com tanto entusiasmo.
Meu tempo acaba, mas foi o suficiente...  Foi suficiente porque deixei meu coração pular de amor e amizade pelo mundo. E das muitas vezes que dei minha amizade e amor ao mundo eu estava, então, sem saber salvando-me .
Foi suficiente porque não me neguei ser patético diante do estritamente racional.
São Luis – 16/05/2010

Um comentário:

Suzy Carvalho disse...

as vezes tentamos consertar o q esta a volta, consertar os outros, pq parece q nada esta se encaixando bem a nós, mas a verdade, é que nós nao estamos encaixados pra td aquilo. =)